O funeral, que lotou as ruas da capital italiana, foi conduzido em um rito ecumênico, cheio de simbologias e diversidade. Mulheres, indígenas, refugiados e crianças participaram das celebrações, ecoando a transformação promovida por Francisco ao longo de seus 12 anos de liderança. O Papa escolheu ser enterrado em um caixão simples de madeira, recusando os tradicionais três caixões usados por seus predecessores, além de manter seus sapatos usados até o fim — gestos que traduzem sua escolha pela humildade e austeridade.
Uma das mudanças mais significativas promovidas por Francisco foi abrir espaço para a participação de leigos, homens e mulheres, negros e negras, em funções litúrgicas antes restritas apenas aos sacerdotes. A medida, implementada após a pandemia, deu novo significado à presença do povo na Igreja. "O Papa queria mostrar que a Igreja é para todo mundo", lembrou uma colaboradora da Rádio Vaticana, que participou da celebração lendo a oração dos fiéis em português.
Em entrevista à CBN, a socióloga da religião Tabata Pastori Tesser destacou o espírito reformista de Francisco. "Ele mobilizou paixões: amor de muitos e oposição feroz de outros. Foi um Papa que escolheu a simplicidade como prática teológica, aproximando a Igreja de temas como a justiça climática, a fraternidade entre os povos e a acolhida das pessoas LGBTQIA+."
Entre os avanços mais emblemáticos de seu pontificado estão a publicação das encíclicas Laudato Si' (2015), sobre ecologia integral, e Fratelli Tutti (2020), sobre amizade social e fraternidade universal. Francisco foi também o primeiro Papa a reconhecer publicamente a necessidade de acolhimento dos homossexuais na Igreja. "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse ele em resposta histórica à repórter Ilze Scamparini, da TV Globo, durante um voo papal.
No entanto, Francisco encontrou resistências internas, especialmente ao tentar avançar em temas como a ordenação de mulheres. "Apesar das pressões, ele não conseguiu mudar essa tradição, refletindo os desafios de uma instituição ainda muito patriarcal", explicou Tabata.
O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, também reforçou que as causas defendidas por Francisco não serão esquecidas. "As sementes que ele plantou seguirão germinando na Igreja", afirmou em entrevista à CBN.
Com seu pontificado marcado por gestos de humildade e coragem, Papa Francisco deixa um legado que transcende fronteiras, chamando todos — sem distinção — para uma Igreja mais aberta, fraterna e atenta às dores do mundo moderno.